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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Caminhando Sobre a Desformidade do Corpo

Esse segundo encontro foi uma proposta, alguns clássicos autores e muitas mentes, vidas diferentes em profusão para a descoberta de novos movimentos, sentimentos, combinações das descombinações, a desconformidade gerada pela incomunicação entre os que jogavam em cena fez aflorar a criatividade do encontro, da presença, cada qual com seu corpo, sua vivencia, suas tentativas.
É estranho pensar para agir de forma livre, somos levados na vida a pensar de forma unicamente racional e nos fazem crer que a irracionalidade é um devaneio que deve ser expurgado eternamente de nossas mentes, porém nesse dia vi que a quebra da norma é muito produtiva e sedutora, com estímulos externos e um aquecimento sensorial conduzido conseguimos encontrar corpos novos, formas novas, amassamos o tabuleiro do bolo, o assamos em fornos triangulares e comemos um maravilhoso bolo torto, novo, irreconhecível e gostoso.
A cada encontro uma nova descoberta, descubro músculos novos que não doíam antes, pois jaziam adormecidos há tempos, inertes, esperando a oportunidade de acordar, os movimentos, a música, os trechos de textos de Suassuna, Nelson Rodrigues, Caio Fernando, Clarisse...... todos ecoavam uníssono no frenesi de corpos a procura da deforma, a rigidez se dissolvia, escoava entre as frestas do tablado, podíamos ver uns aos outros e nos estranhávamos, admirávamos, tocávamos, nos reconhecíamos, nessa dança ritualística encontramos a deforma da cena, do momento, sem explicação, apenas apreciação.
Taças, panos, jornais, chapéu, água, óculos, corpos, vozes, enfim o produto de pulsação foi observado e analisado, não havia o bom, havia o humano e sua maravilhosa imperfeição, o grotesco admirável, o suave, tesão, depressão, tudo mesclado e separado apenas por alguns segundos de espera para a nova música, pausa, efêmero teatro da vida.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Começa a Nova Jornada Onírica de Suor e Sangue.

Acordei hoje com uma dor nas pernas, ando com dor nas pernas, minhas pernas doem, aí alguém pensará que corri para pegar uma condução, que fiquei horas em pé em uma fila de banco ou até mesmo que carreguei muito peso fazendo uma mudança. Mudança?! Sim, foi isso que aconteceu ontem, a dor de hoje é o reflexo de uma mudança que se inicia, o corte que arde antes de cicatrizar não é meramente ocasionado pela cisão do tecido vivo, porém há muito de norma arraigada, truncada, enraizada em nós, isso torna a mudança dolorosa, ela é uma troca de energia, renovação, é a cirurgia que cura o coração doente e a alma cansada.
Vejo forma turva no futuro que não tarda a chegar, vejo pequenos gestos virando grandes expressões, tensão, quebra de paradigma, dor física e mental, pois é cansativa a busca pelo novo, a estréia de novos pensamentos é realmente trabalhosa e, como é natural no artista, a estréia tem que ser original, íntima, latente, ela vem do sangue, da pulsação. Não há nova sem velha, havemos então de nos alimentar das velhas e pragmáticas convicções para que depois, como um filho rebelde, neguemos a convenção da facilidade para a limpeza da simplicidade, somente o necessário, o que funciona, a origem da criatividade traduzida pelo conceito do que se pretende, estamos lapidando esse diamante que fora cuspido em uma erupção provocada ontem, o grafite em alta pressão, o carbono pressionado e aquecido nos proporcionou essa matéria prima nova, transformada, valiosa, porém não lapidada, esculpida, cravejada.
É dever então dos atores transformar, e foi através da mudança, que aceita pelo grupo, foi comungada pelos mesmos, começamos assim o maravilhoso caminho em direção ao misterioso, profundo, carnal e humano Teatro das possibilidades.

Relato do 1º dia de Oficina com Os Ciclomáticos Cia. de Teatro.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Teste ou Presente?!

Ontem, dia 13 de junho, fui ao Rio de Janeiro fazer um teste para entrar em uma oficina de teatro, e num estava sozinho, meu amigo Marcos Paulo estava junto comigo, e como já era de se esperar estávamos muito ansiosos com as possibilidades desse teste, pois não se tratava de qualquer teste, era o teste para a oficina da Cia de Teatro Os Ciclomáticos, tenho profunda admiração por essa cia. Eles seriam apenas mais uma cia de Teatro, mas não, seu trabalho é muito lindo e tocante, um misto de vislumbramento visual com significação sentimental, é inexplicado a qualidade de Os Ciclomáticos.
Enfim, saímos de Volta Redonda rumo ao Teatro Ziembinski no bairro Tijuca no Rio, durante a viagem conversamos sobre coisas normais para atores e isso quer dizer Teatro, fomos nos descontraindo e pensando em como seria esse bendito teste, só a palavra teste já nos deixa nervosos, pois saber que está sendo avaliado já é uma grande pressão, agora saber que você será avaliado juntamente com 89 pessoas, quer dizer 89 atores, é super pressão, mas estávamos felizes simplesmente pelo fato de estar ali, indo em direção ao que sempre sonhamos, sempre pensamos, quem é de Teatro sabe que para nós existe o Teatro e o resto, isso é facilmente explicado pelo fato de nos sentirmos sempre um peixe fora da água longe da cena.
Quando chegamos no Teatro ficamos encantados com a exposição de Os Ciclomáticos que estava no hall de entrada, algumas maquetes de cenários, indumentárias, fotos, releases, tudo muito bem feito, estava descontraído lendo os releases das peças que já foram e ainda são encenadas por eles, das que estão em cartaz, me maravilhando com a maquete muito bem feita de alguns de seus cenários, quando dei por mim estava cercado por uma multidão de gente, o hall do teatro é pequeno, mas parecia minúsculo pela quantidade de gente que estava ali pelo mesmo motivo que eu e meu amigo.
Nesse momento olhei para aqueles rostos, aqueles caras de bermuda e chinelo, aquela menina com roupa de inspiração hippie, nesse momento, nesse ínfimo momento eu senti uma maravilhosa sensação de coletividade, percebi que não estou sozinho, naquele momento éramos todos peixes dentro daquele lindo aquário Teatro, foi uma sensação muito bacana ver naqueles rostos as mesmas ansiedades, os mesmos nervosismos típicos de uma espera de teste, foi muito bom essa experiência, mas eis que se abre a porta do Teatro e adentramos todos vagarosamente para dentro da "caixa preta".
Todos sentados na platéia e lá estavam eles, Os Ciclomáticos nos recebendo com todo aquele carinho e humanidade típica de um abraço coletivo, Ribamar Ribeiro ator, diretor e tudo mais de bom, nos recebeu dizendo como a cia se formou e nos contando um pouco de suas histórias, e olha que não são poucas, dessa vivência teatral de muitos anos. Nos contou que estavam no Teatro Ziembinski através de edital de ocupação com validade para 02 anos, na hora eu pensei que não haveria grupo melhor para ocupar aquele espaço, quem já viu um espetáculo deles sabe muito bem do que estou falando, com sua humildade e seus muitos prêmios, que ele em hora nenhuma nos revelou, continuou dizendo que queria nos conhecer melhor e que era para cada um de nós falarmos um pouco sobre nós.
Naquele momento eu pensei em tudo e nada ao mesmo tempo, sabe aquela vontade de ser original, de falar algo que vai te colocar em destaque, falar algo único e inteligente, igual a candidato em entrevista de emprego sempre querendo impressionar, mas quando o primeiro começou a falar sobre suas experiências, suas dificuldades e anseios com relação ao Teatro, eu percebi que seria, no mínimo, impossível ser original, o segundo falou, o terceiro, quarto, aí eu já tinha certeza que não seria original e muito menos novo o que eu iria dizer, pois aquele sentimento de estar em casa, de compartilhar a mesma vibe que senti no hall se intensificou de forma quase fraternal nos relatos de todos que estavam ali, via o brilho no olho do meu amigo que observava atentamente os relatos que poderiam ser seus.
Eram relatos de um sentimento incondicional pela arte, pessoas que diziam ser formadas em direito, psicologia, fisioterapia, Licenciatura, atendente de tele-marketing, mas em todos residia o mesmo vazio que reside em mim, foi por isso que a identificação foi imediata, a cada relato o amor reaparecia, Baco devia estar super feliz tomando sua taça de vinho naquele momento.
Foram muitos e demorados relatos, alguns me arrepiaram como a história de uma senhora de seus setenta e poucos anos que nos contou sua história, ela disse que sempre residiu nela a paixão pelo Teatro, paixão essa que nasceu nas encenações de escola, ela chegou até a fazer "Martins Penna", mas que foi tolhida pelo seu marido altamente machista, se formou em direito, porém advogou pouco, não conseguia sociedade por conta do ciúmes doentio de seu parceiro, até que um dia vítima de um assalto em sua residencia seu marido veio a falecer com um tiro na cabeça, e o pior, ela e a filha, então com vinte e dois anos, virão tudo acontecer na sua frente, três anos depois essa mesma filha faleceu por conta de um acidente de automóvel, ela disse que passou por momentos de crise, mas uma amiga a aconselhou a desfilar pela terceira idade e ela disse: - eu fui mesmo, precisa me levantar, e eu gostei do negócio, desfilamos em vários hotéis do Rio e até me candidatei a musa da terceira idade!
Ela ainda nos disse que depois disso voltou para o Teatro e que de lá não saia mais, que lá ela era feliz e que queria ser feliz.
Embalado nesse ritmo de comunhão fomos convidados a subir no palco, primeiro as mulheres e depois os homens. Foi aí que a magia aconteceu, eu não acreditei no maravilhoso teste que nos foi proporcionado.
Nós fomos fazer um teste e recebemos uma maravilhosa aula de Teatro, foi deliciosamente a melhor aula de Teatro que já fiz na vida, uma oficina magnífica onde pudemos extravasar conhecimentos e tenções. Nos arrepiamos todos com as mulheres que estavam no palco, pois num primeiro instante elas faziam a oficina e nós assistíamos e depois era a nossa vez, mas que maravilhosa visão, nunca havia vido uma oficina com a estética linda daquele jeito, os atores se jogavam mesmo com vontade. Era um teste? Que teste?! Esquecíamos desse detalhe, por fim estávamos em transe hipnótico Teatral, o prazer era maior do que qualquer ansiedade ou preocupação, naquele momento não havia mais nada, somente nós e o palco.
Quando voltamos para os nossos assentos voltamos outros, não éramos mais quem entramos na "caixa preta", em alguns minutos fomos transformados, os rostos estavam leves, era como se tivéssemos levado uma injeção de Teatro, cura certa para corações vazios, quanta catarse, quanta cumplicidade.
Foi lindo esse dia, por mais que queiramos estar nessa oficina não havemos de negar que o teste na verdade era um presente, eu sei que muitos achariam banal tal atividade, mas para minha experiencia pessoal foi mágico, onírico e triste por saber que na estrada de volta para a casa toda a magia foi esvaindo no caminho e ficando em seu lugar aquele sentimento de vazio, saudade, típico da efemeridade de nossa querida arte Teatro.  

terça-feira, 12 de junho de 2012

Vivencias Teatrais

Aos treze anos fui atraído para uma arte, até então, desconhecida, mas atraente ao ponto da admiração. Convidado por meu irmão, ia às suas aulas de teatro para saber do que se tratava, afinal de contas estava conhecendo o mundo de forma crítica, formando opinião sobre tudo e todos, porém quando em cena estava aquele ser humano tão conhecido em casa, meu irmão, acontecia algo que realmente me deixava boquiaberto, não o reconhecia, naquele exato momento da encenação ele me era tão estranho como qualquer outro que visse na rua.
Sem entender e intrigado por esse momento fantástico, continuei a ir nas aulas, sábado após sábado, e sempre era o mesmo sentimento, gostei tanto das possibilidades de ser outro que decidi entrar para esse mundo desconhecido, passível de oportunidades nunca conhecidas, em minha mente crescia a vontade de ser, afinal de contas nessa idade a afirmação do eu é muito gritante em nossa mente. Sabia que através desse admirável mundo novo eu enxergaria como nunca havia enxergado antes.
Tempos depois ainda não havia encontrado a resposta e muito menos conseguia gerar nos outros o efeito que meu irmão gerou em mim, era intimamente um ator jovem e pouco experiente na arte da interpretação, ia para a cena com vários vícios e histrionismos dignos de risos infindáveis, não buscava verdade nenhuma, pois não compreendia a verdade, via apenas dois pontos básicos: a partida e a chegada, falava tão rápido, engolia as palavras como se a cena fosse uma corrida frenética.
Com o passar do tempo e muitas aulas depois fui compreendendo que a arte de interpretar vem de dentro de nós, que não adiantava os movimentos exagerados, os histrionismos e a gritaria, o que acontecia nesse caso era a total negligencia do texto, elemento este fundamental ao teatro, antes de qualquer interpretação é preciso entender a dramaturgia existente no texto, porém somente após muito tempo me dei conta dessa necessidade que urge à boa interpretação. Embora tardio, mas não desistente, fui em busca de mais conhecimento e nessa busca pude me defrontar com um maravilhoso mundo de possibilidades, eu fui mais longe em um ano do que tinha ido em minha vida toda, quantas teorias, quantos mestres, em pouco tempo a clarividência do conhecimento iluminou-me de forma incisiva e pude com esse conhecimento refletir sobre a arte de interpretar.
Nesse instante pude compreender o que se passou há muitos anos atrás no meu primeiro contato com o teatro, percebi que aquele sentimento tinha um nome e um significado, era o estranhamento, eu reconhecia o teatro como não realidade, porém os sentimentos inerentes ao humano eram perceptíveis a ponto de me entregar a catarse. Percebi que sem a catarse não há a identificação, a humanização no sentido mais puro da palavra, não há de se fazer entender sem se entregar ao mundo onírico dos palcos, a cena é a representação real dos sentimentos humanos e não do histrionismo forçado.
Tão estranho ir tão longe para perceber que a resposta estava tão perto, quase podia sentir o fervor dentro de mim. Depois desse dia nenhuma peça foi a mesma, assisti com olhar vívido as representações que se seguiram, quanta beleza, quanta dedicação, era música aos sentidos as boas representações, cada peça uma aula, as ruins eram melhores ainda ao aprendizado, pois a imperfeição é típica de nossa arte e nela reside a propensão para a criatividade.
Hoje nada mais será como antes, ainda estou aqui tentando aprender algo sobre ser, a única ferramenta que disponho e que preciso é a minha sensibilidade, essa que abre os seus olhos e que te mostra que tudo é interessante ao ator, do grego "aquele que age", todas as pessoas e ações me interessam, nossas mentes sempre estão ávidas ao aprendizado, hoje abro a mente, penso, crio, erro, tento, erro, consigo, faço, essa é a chave, fazer, se somos aqueles que agem, atores, é mister de nossa arte agirmos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Afirmação

O céu negro me faz refletir sobre o que eu não entendo, como no firmamento tantas luzes vagam sem se encostar, ordem e brilho sem se ofuscar.
Nessa vida passamos querendo firmar, tentando brilhar, achar um lugar, porém quando tudo por um fio está, apenas lagrimas escorrem sem parar, não há lugar que se crie ou se imagine que abrigo venha nos dar.
É chegada a hora de tentar, enfrentar e mais um dia acordar, errando por tentar, sem omissão, despachando a depressão, eis que ouço um novo som, ruido alto e inalterado de um coração que bate acelerado, uma luz forte ofusca minha vista num vejo nada, silêncio...
Escuridão, 3 segundos de inquietação, luz total, assombração, quanta gente em comunhão, olhando pra gente com admiração, como é bom ser do Teatro de corpo, alma e coração.