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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cárfrei Dell´arte

Somos atores em direção ao imaginário teatral, temos por missão o mundo onírico, faremos de nosso trabalho a ponte da conversão dessa vida para a fantasia do fazer teatral! Temos esse compromisso, essa energia, essa estranha magia para com o nosso público que nem nos conhece, e nem nós a eles, mas juntos em um tempo determinado pelo etéreo iremos comungar da mesma verdade, do mesmo sentimento, da mesma loucura, seremos um só espírito rumo à efemeridade do momento único que só essa arte produz e quando o momento plausível vier, as palmas de pé, o apagar das luzes, recolhemos todas as máscaras, sorrisos e lágrimas para novamente encantar em outro lugar, assim seguiremos sempre a vagar, pois é mister do ator ir aonde seu público está!

Leonardo Cárfrei.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cultura Popular

Os conceitos de cultura nas ciências sociais antes do século XVIII eram concebidos da seguinte forma: cultura = natureza e civilização = progresso. Depois do século XVIII a cultura passou a ser a medida de civilização de um povo.
No século XIX duas noções modernas de cultura foram consideradas:
a) Particularista – Cultura como um conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais;
b) Universalista – Conjunto de conhecimentos, crenças, costumes e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. (Tylor, 1871).
As ambigüidades também ocorrem com relação à cultura popular, podemos citar duas perspectivas:
- As culturas populares são derivadas da cultura dominante, não existe de forma autônoma (visão marxista);
- As culturas populares são autônomas e autênticas (visão romântica).
Podemos ainda citar alguns conceitos de cultura popular:
a) “O ‘popular’ não está contido em conjuntos de elementos que bastaria identificar, repertoriar e descrever. Ele qualifica, antes de mais nada, um tipo de relação, um modo de utilizar objetos ou normas que circulam na sociedade, mas que são recebidos, compreendidos e manipulados de diversas maneiras.” (Roger Chatier);
b) “É a cultura comum de pessoas comuns, isto é, uma cultura que se fabrica no cotidiano, nas atividades ao mesmo tempo banais e renovadas de cada dia.” (Michel De Certeau).
c) “É uma cultura que se fabrica no cotidiano, nas atividades ao mesmo tempo banais e renovadas de cada dia.” (Michel De Certeau);
c) “Nem inteiramente dependentes, nem inteiramente autônomas; nem pura imitação, nem pura criação.” (Cuche);
d) “A dominação cultural nunca é total. Há sempre uma margem para a resistência e afirmação.” (Cuche, 2002).

Dimensões da Cultura

O que é a Cultura?

Para o senso comum, cultura possui um sentido de erudição, uma instrução vasta e variada adquirida por meio de diversos mecanismos, principalmente o estudo. Quantas vezes já ouvimos os jargões “O povo não tem cultura”, “O povo não sabe o que é boa música”, “O povo não tem educação”, etc.? De fato, esta é uma concepção arbitrária e equivocada a respeito do que realmente significa o termo “cultura”.
Não podemos dizer que um índio que não tem contato com livros, nem com música clássica, por exemplo, não possui cultura. Onde ficam seus costumes, tradições, sua língua?
O conceito de cultura é bastante complexo. Em uma visão antropológica, podemos o definir como a rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, etc.

Cultura Erudita

Os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento é proveniente do pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou do estudo em geral (erudito significa que tem instrução vasta e variada adquirida, sobretudo pela leitura).
Cultura Popular

A cultura popular aparece associada ao povo, às classes excluídas socialmente, às classes dominadas. A cultura popular não está ligada ao conhecimento científico, pelo contrário, ela diz respeito ao conhecimento vulgar ou espontâneo, ao senso comum. O artista popular não está preocupado em colocar suas obras expostas em lugares prestigiados.
Nesse sentido, o mais importante na arte popular não é o objeto produzido, e sim o próprio artista, o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades.
A cultura popular é conservadora e inovadora ao mesmo tempo no sentido em que é ligada à tradição, mas incorpora novos elementos culturais.
O artista popular tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros, a arte popular é regional.
O produtor de cultura popular e o de cultura erudita podem ter a mesma sofisticação, mas na sociedade não possuem o mesmo status social, a cultura erudita é a que é legitimada pelas escolas e outras instituições. É importante ressaltar que os produtores da cultura popular não têm consciência de que o que fazem têm um ou outro nome e os produtores de cultura erudita têm consciência de que o que fazem tem essa denominação e é assunto de discussões, mesmo porque os intelectuais que discutem esses conceitos fazem parte dessa elite, são os agentes da cultura erudita que estudam e pesquisam sobre a cultura popular e chegam a essas definições. 

A Mulher Sem Pecado

A Mulher sem Pecado foi a primeira peça teatral escrita por Nelson Rodrigues em 1941, a referida peça foi encenada pela primeira vez em 09 de dezembro de 1942 no teatro Carlos Gomes localizado na cidade do Rio de janeiro, essa montagem foi dirigida pelo diretor Rodolfo Mayer.
A peça conta a história de um empresário chamado Olegário que obcecado pela idéia da infidelidade de sua mulher Lídia, fingi-se de paralítico e impotente para testar a fidelidade de sua esposa. Dona Aninha, mãe de Olegário, é definida pelo autor como “doida pacífica” e fica o tempo todo em cena enrolando um paninho e sempre vestida de preto.
Umberto, o chofer da casa, é encarregado de vigiar dona Lídia, porém Olegário só permitiu que esse a vigiasse por conta de o próprio Umberto ter lhe dito que fora castrado quando criança.
Olegário faz com Lídia um jogo duplo tal como: ao mesmo tempo em que indica seu ideal de mulher sem pecado, apresenta-lhe um kit completo de como ser infiel. 
Inézia, a empregada da casa, sente-se aflita por causa do incessante interrogatório pelo qual Olegário a submete para obter informações sobre Lídia, aquela vive com medo que a patroa descubra que está sendo vigiada por ela.
Umberto pensa o contrário, vê nesse trabalho uma oportunidade de estar perto da patroa Lídia.
Lídia é uma personagem que sofre muito desde o início, esse sofrimento é tido por ela como injusto, pois a mesma nunca deu motivos para que o marido desconfiasse de sua fidelidade, essa personagem dá indícios de sua fidelidade logo no primeiro ato se mostrando sempre solícita para com o marido Olegário. Lídia também sofre pressão psicológica por parte do chofer Umberto.
Toda a trama acontece na sala da casa de Olegário e os conflitos, que dão sentidos e ação à peça, ocorrem de acordo com as atitudes de Olegário em relação à Lídia.
Por fim, quando Olegário convence-se da fidelidade de Lídia, esta, exausta pela obsessão do marido toma atitudes que podem dar uma reviravolta à trama.   
A Mulher sem Pecado, sem dúvida, é uma das obras mais importantes escritas por Nelson Rodrigues, e por conta de seu enredo com relações e sentimentos contemporâneos a atualidade e a essência do humano, essa, pode ser encenada em qualquer época e lugar.
É uma peça teatral extremamente realista, essa essência realista é constatada em vários momentos da peça, há conflitos domésticos que não perpassam para uma esfera “fantástica” do imaginário, os conflitos foram tecidos em ambiente doméstico e por isso a “realidade” do cenário de uma sala onde transitam e agem personagens podem ser encontradas na sociedade.
Assim como em outras peças, Nelson critica o casamento e o erotismo, marca de suas obras, também muito presente, nesta obra em questão, como, por exemplo, em algumas cenas de Umberto e Lídia.
Acredita-se que a vida pessoal do autor, recheada de tragédias e dramas familiares, tenha influenciado na forma de escrever suas peças, que discutem sentimentos essenciais da sociedade e da vida humana.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Atrás do Sol Tem Coisas.

O espetáculo teatral "Atrás do Sol Tem Coisas" apresentado pelo Grupo Proscenium foi mais uma prova de que o teatro do interior tem muito ainda por mostrar de qualidade e pesquisa.
A peça foi o resultado de longas jornadas de ensaios onde os atores foram levados a exaustão para que pudessem apurar suas representações, pensa que eles reclamaram, não, muito pelo contrário, quanto mais ensaiavam mais vontade tinham de que tudo desse certo.
O texto e as letras das músicas que dão o toque onírico ao espetáculo são de autoria do diretor Carlos Eduardo Giglio, fundador e diretor do Grupo Proscenium, que com muita garra, perseverança e coragem mantém o grupo a mais de uma década, parece pouco, mas nas condições insalubres da arte no interior isso é coisa de guerreiro, e não por coincidência a produtora de Giglio chama-se "Guerrilha".
As melodias das músicas são da autoria de Helder de Sousa, músico, ator e Psicólogo, grande compositor que com um toque sutil de melodia romântica adocicou as cenas de um amor inocente.
No dia da estréia tivemos o prazer de ouvir as músicas sendo tocadas por Helder e as canções cantadas pelos atores Rovany Araújo e Thais Amorim, o que reforçava ainda mais o caráter representativo da peça que com a característica marcante do grupo Proscenium dava o toque de estranhamento, causando nos espectadores a adorável "catarse" e a reflexão póstuma sobre os amores de nossas vidas.
Afinal quem nunca foi abobado pelo primeiro amor, simples e intenso, que toma de súbito a alma, emudece, estremece as pernas, coração acelerado, todas essas sensações são relembradas pelos espectadores ao assistir "Atrás do Sol Tem Coisas".
Como o próprio diretor disse: "As pessoas estão precisando de mais amor em suas vidas", e são com espetáculos bem fundamentados, com encenações limpas, sem apelações ou relações do gênero que conseguiremos enaltecer as emoções das representação nos palcos.
Fica aqui a minha manifestação de satisfação ao ver um grupo da região confeccionando peça boa para os olhos, ouvidos e coração.
Deixo toda a merda do mundo para o Grupo Proscenium e para o teatro do interior do estado e da alma.
O teatro carece de ser cuidado e para quem o ama só resta cultivá-lo com o melhor que puder para que os frutos de seu palco sejam proveitosos para uma sociedade carente de "humanidade".

 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Intervenções e Neuroses.

Teatro é feito com criatividade, esforço e com certeza muito estudo.
Eu como ator estou habituado a montar espetáculos através de métodos tradicionais de montagem. A forma mais tradicional para meu grupo sempre foi a do grande encenador e teórico do teatro russo Constantin Stanislavski, sempre fizemos a leitura de mesa para traçar as intenções do texto, dos personagens e principalmente para extrair do texto o seu "super objetivo", que é o eixo central da problemática existencial do enredo, o conflito maior que desencadeiará os outros conflitos que nortearão a peça. 
Porém, nessa nova experimentação cênica, nós pulamos do princípio da memória emotiva (naturalismo) para a ação física, partimos para a experimentação em cena, para a vivencia das personagens dentro dos objetivos pré estabelecidos para sua existencia. O resultado foi realmente surpreendente, obtivemos nova "roupagem" para as ações das personagens, através da tentativa descobrimos novas formas para a composição das mesmas, tínhamos uma nova e eficiente ferramenta nas mãos, o improviso.
Claro que quando me refiro ao improviso estou falando do processo criativo com objetivos bem claros, há muitas pessoas que consideram o improviso como um simples remendo de falas que foram esquecidas, ou até mesmo como uma "metralhadora" de "cacos" que não levam a lugar nenhum, a não ser ao fastidioso monólogo de palavras vazias. 
O improviso que vem sendo utilizado em "Intervenções e Neuroses" pode nos proporcionar a liberdade de criação sem a amarração do texto, quando digo texto me refiro ao texto literal, escrito, porém há o texto no sentido de enredo da peça e isso vem sendo amplamente aproveitado nos improvisos para a criação do conflito do espetáculo. 
Com isso os atores puderam mostrar seu potencial para a criação do texto dramático sem falas, porém abundante em gestos e significados corporais, a linguagem falada restringe, às vezes, o potencial corporal do ator, quando esse tem a possibilidade de experimentar novas formas para se interpretar, consequentemente, enriquece o seu "vocabulário" corporal.
O formato de trabalho que erigiu o fazer teatral em "Intervenções e Neuroses" é um caminho de uma demasiada sugestividade e liberdade de criação coletiva, contudo é preciso ter cuidado, pois os caminhos sinuosos da criação podem gerar confusões e incertezas quanto aos significados e sentidos que a peça gerará. 
Todo esse processo pode ser acompanhado pela figura do diretor que costura todos esses "retalhos" criativos e forma o todo do espetáculo, evitando assim a dispersão dos materiais criados durante o processo de improvisação.
Hoje há muitos grupos de teatro que não definem claramente a figura do diretor, o que há são colaborações coletivas onde todos os integrantes do grupo trabalham coletivamente em prol do espetáculo.
   

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Shakespeare for ever...

O poeta e dramaturgo Willian Shakespeare sem dúvida é um dos melhores escritores da história do teatro. No século XVI haviam outros dramaturgos, porém a genialidade de Shakespeare perpassou o tempo até a nossa era para nos contar as histórias de seu tempo.
O fato das obras do dramaturgo inglês terem tanto êxito nos dias atuais se deve ao conteúdo altamente contemporâneo de seus enredos, a essência de suas obras tem a profundidade da alma humana. 
Prova disso são os pensamentos existenciais de "Hamlet", ou o amor incondicional de "Romeu e Julieta", a cobiça que invenena a alma em "Rei Lear", todos pensamentos oriundos do profundo emocional da alma humana.
As histórias criadas por Shakespeare sempre são encenadas e reencenadas, não há tempo ou lugar para que algum diretor enxerge o brilho de seus textos. 
A teatralidade contemporânea vêm criando releituras das peças Shakesperianas de forma a explorar as possibilidades cênicas ao extremo e oferecer ao público uma estética diferenciada de suas obras.
O Grupo Galpão de Belo Horizonte logrou grande êxito em sua montagem de "Romeu e Julieta", grande sucesso de crítica e público. A peça conta a história apaixonada do casal Romeu e Julieta, porém de forma diferente e inusitada, a linguagem das roupas, maquiagem e movimentos dos atores ganharam um toque de circo e traços da comédia dell'arte, os objetos e adereços cênicos ganharam função significante no espetáculo onde todos os atores andavam em pernas de pau e tocavam lindamente instrumentos musicais. Outro elemento importante nessa diversificada montagem foi o cenário composto por um carro, os usos para esse cenário pareciam infindáveis, abriam-se portas, janelas, o teto do carro virava palco, etc. 
A musicalidade do espetáculo também foi muito bem tecido com cantigas populares e aquele toque instrumental e vocal especial que só o Grupo Galpão consegue realizar com tanta destreza, a destreza era tanta que o ator Eduardo Moreira andava de pernas de pau com uma mão segurando um guarda chuva e a outra mão tocando acordeon, magnífico!
O Galpão é apenas um dos exemplos das várias releituras que vem sendo feitas das obras de Shakespeare e que com certeza continuarão sendo feitas, pois se trata de um grande poeta que decifrou o íntimo dos sentimentos humanos e conseguiu, assim, que sua obra fosse eternizada nos corações de quem as leem.     
  

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Senhor Ator

Senhor ator, de onde vem esta vontade, esta força de fazer o que na verdade com tão pouco recurso é absurdo de se crer? De onde vem esta paixão, este desejo incondicional pela fantasia? Por que o sonho em vós és tão exaltado, que de longe se percebe o seu vôo? Vejo que com tão pouco, com meia dúzia de loucos o senhor constrói um império imaginário, com as palavras, os gestos, seduz a platéia que em silêncio comunga com a vossa verdade. Leve-me, senhor ator, para o seu mundo imaginário, quero sentir os ventos da janela do castelo, quero cantar e dançar com seres imaginários, quero fugir, nem que seja por um minuto, da realidade deste mundo. 

Teatro do interior

Quando me perguntam o que é teatro sempre me lembro de Boal quando ele diz que o ser humano sempre está dramatizando, dramatiza em casa, no trabalho, na escola e, às vezes, até no palco. Somos dramáticos por natureza, a palavra "drama" vem do grego e significa "ação", logo somos dramáticos, pois agimos o tempo todo em nossas vidas e estamos sempre representando algo em nossa aldeia de símbolos e significações.
Porém há alguns humanos que querem ir mais além em sua dramaticidade, a esses damos o nome de "aspirantes a ator", sim, porque ser ator não é tão simples quanto a maioria das pessoas pensa. É uma carreira de muito estudo e muito esforço para tentar representar vidas de personagens (persona, do grego, significa máscara) que só vivem no papel. 
O ator torna-se um mágico ao criar uma vida inteira tirada de algumas páginas de papel, suas personagens vivem efêmeras enquanto a peça é apresentada e depois morrem para ressuscitarem na próxima sessão. 
Como podemos ver é uma carreira muito difícil de ser executada e ao mesmo tempo muito concorrida, pois todos querem os louros da fama e toda a sorte de benefícios que ela pode trazer, porém se esquecem da parte árdua do trabalho e dos intermináveis ensaios de repetições infindáveis, tudo para que a encenação seja perfeita e com tudo de melhor que o público merece. 
Contudo o "grande teatro", ou "teatrão" como é chamado o teatro comercial, esse teatro composto por grandes montagens e produções de avantajadas cifras, está localizado, principalmente, no eixo Rio de Janeiro, São Paulo e mesmo assim em suas capitais, deixando de fora o interior desses estados. 
Ser ator no interior é muito complicado, primeiramente pelo ator não ser considerado um profissional, mesmo este tendo o seu registro profissional, não há fomentos verdadeiros que gerem renda estável para a sobrevivência desse tipo de profissional no interior, muitas das vezes eles são considerados, vejam vocês, desocupados. 
Nesses anos de resistência de um teatro "amado"r vi muitos amigos ficarem pelo caminho, muitos sonhos que se diluíram nas margens de uma sociedade preconceituosa e desigual. Não tendo como sobreviver de sua arte muitos deixaram à arte de representar para se dedicarem a outra função qualquer que lhes rendessem um sustento. Outros resistiram bravamente assumindo os riscos e estão na luta até hoje com seus projetos e tentativas de editais culturais e leis de fomento do governo federal. 
Contudo o que nunca morre nos verdadeiros amantes do teatro é o desejo de representar, de vivenciar a magia do imaginário, da comunhão, do momento em que todos somos um em um espetáculo "uni-sono". É esse o motivo de ainda haverem tantos atores que resistem a todas as dificuldades e continuam tentando e sonhando, mesmo que seja apenas nos finais de semana e feriados, mas eles num desistem nunca de seu amado teatro.     

A cena contemporânea.

O teatro brasileiro caminha para uma nova perspectiva de criações e experimentações, verificamos que os grupos de teatro estão cada vez mais aprimorando as suas experiências cênicas em busca de uma renovação do já desgastado "naturalismo" que ainda tem grande espaço nas encenações contemporâneas. A distância entre palco e platéia, entre espectador e ator está se dissolvendo para dar espaço a uma interatividade muito maior, essas encenações estão partindo para uma releitura da comunhão do teatro da Grécia antiga, uma dionisíaca atual. 
Podemos, por exemplo, analisar o caso do Teatro Vertigem que com suas encenações em ambientes que anteriormente eram utilizados para fins específicos, essa experiência causa grande estranhamento nos espectadores, mas ao mesmo tempo torna a cena muito próxima do tangível, o espectador está tão próximo que é capaz de sentir o cheiro, de tocar a cena, o ator. O Vertigem trabalha com a pesquisa aprofundada nos temas que nortearam sua dramaturgia e encenação, no caso da peça "Apocalipse 1, 11" eles utilizaram um presídio abandonado para a apresentação da peça. Com essa interatividade dos espectadores, com o ambiente "pesado" que norteia o imaginário das pessoas, eles puderam sentir o cenário real da peça e se envolver com a história que era encenada sem perder o foco de que se tratava de uma representação, sem a intenção de "iludir". O objetivo com esse tipo de trabalho é criar a sensação de "apresentação" e não "representação", pois deslocando o espaço cênico da tradicional "caixa italiana" eles causam a sensação do "aqui" e "agora" em quem assiste ao espetáculo. A tentativa de trazer os espectadores para uma apresentação mais intensa tem por essência a conscientização de uma reflexão posterior do espetáculo por parte de quem o assiste. 
Temos que fazer peças que contenham o caráter social, a denúncia, a expectativa, a desilusão, peças que contenham os sentimentos e as reflexões oriundas da eterna "espera" do ser humano.
Como o Vertigem vários outros grupos realizam esse trabalho de experimentação e aplicação de novas "formas" para o fazer teatral e com isso quem ganha são os espectadores que poderão sempre contar com a criatividade e a renovação dos palcos brasileiros.